Um flanelinha não identificado foi morto por volta das 3h30 da madrugada de domingo (30/11) na Rua José Campos, em Madureira, zona norte do Rio, após ameaçar com arma falsa um policial militar de folga que aguardava o carro no estacionamento informal próximo ao Shopping Nova América. Imagens captadas por testemunhas mostram o guardador encostando a réplica em direção ao agente e avançando; o PM recuou três passos e disparou cinco vezes. O homem foi atingido no tórax e morreu no local antes da chegada do Samu. A gravação viralizou nas redes sociais e reacendeu o debate sobre o uso proporcional da força por agentes fora de serviço.
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A Polícia Militar confirmou que o autor dos tiros é cabo do 9º BPM (Rocha Miranda) e estava de folga desde a noite de sábado. Segundo nota, o PM relatou ter sido abordado pelo flanelinha, que teria exigido dinheiro para “proteger” o veículo. Após recusar-se a pagar, o agente afirmou ter sido ameaçado com o que parecia ser um revólver calibre 38. Peritos da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) apreenderam no local uma pistola de airsoft sem identificação, com o pente pintado de preto para simular arma de fogo. A perícia preliminar constatou que o artefato não possui numeração e não é capaz de disparar projétil letal. O policial apresentou-se espontaneamente na 29ª DP (Madureira) pouco depois da ocorrência, foi ouvido e liberado para responder em liberdade, pois não há flagrante de natureza criminal, informou a Polícia Civil.
Madureira concentra cerca de 1.200 flanelinas formais cadastrados pela prefeitura, mas a Guarda Municipal estima que o número informal chegue ao dobro. Desde 2020, a 9ª DP registra ao menos 47 ocorrências de confrontos entre guardadores e motoristas, sendo 14 com vítimas feridas por arma branca e três por arma de fogo. Nos primeiros dez meses de 2025, foram abertas 22 investigações por extorsão praticada por flanelas na região, mas apenas três resultaram em prisão em flagrante. O uso de réplicas é recorrente: no ano passado, a Polícia Civil apreendeu 38 armas falsas em operações no Centro e na Zona Norte. O especialista em segurança pública Ítalo Ribeiro, professor da Uerj, explica que a dificuldade de distinguir réplicas reais ainda gera “reação legítima” por parte de vítimas ou policiais, mas ressalta que o artigo 23 do Estatuto do Desarmamento prevê pena de um a três anos para quem utiliza simulacro para intimidar.
A DHC instaurou inquérito para apurar homicídio doloso, mas ainda não há prazo para conclusão. A corregedoria da PM acompanha o caso e pode abrir procedimento administrativo; o policial foi afastado das ruas por 30 dias. A Defensoria Pública afirmou que acompanhará as investigações para verificar eventual excesso. A 29ª DP permanece coletando imagens de câmeras de segurança do shopping e de estabelecimentos vizinhos para reconstruir a dinâmica exata da ameaça e dos disparos.