Levar o cão ou o gato para um dia de sol e areia parece, à primeira vista, sinônimo de diversão garantida; no entanto, a praia é um dos ambientes que mais desafiam a homeostase cutânea dos pets. A radiação ultravioleta, refletida pela areia clara e pela superfície da água, atinge níveis elevados entre 10 h e 16 h, mesmo em dias nublados, e a temperatura do solo pode ultrapassar 60 °C — valor suficiente para provar queimaduras em coxins e regiões de pele fina em poucos minutos. A implicação prática é clara: sem uma estratégia de proteção e resfriamento, o passeio pode terminar em dermatite aguda, desconforto térmico e, nos casos mais graves, exacerbação de doenças fotoinduzidas. A boa notícia é que a prevenção é simples e baseada em três pilares — bloqueio solar, controle do tempo de exposição e higiene pós-praia — todos acessíveis ao tutor médio.
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O primeiro mecanismo de defesa é o filtro físico químico específico para animais. Fórmulas veterinárias contêm dióxido de titânio ou óxido de zinco em partículas micronizadas que dispersam a radiação UVB e UVA sem atravessar a barreira cutânea, evitando toxicidade sistêmica. A reaplicação deve ocorrer a cada duas horas ou após imersão, pois a oleosidade da pelagem reduz a aderência do produto. A escolha da veiculação — bastão para focinho e orelhas, spray para dorso e flancos, creme para áreas despigmentadas — depende da densidade de pelos e da sensibilidade individual; pets de pelo claro, expostos na virilha ou na axila, requerem camada generosa, enquanto animais de pelo escuro e espesso podem ser protegidos apenas nas zonas glabras. Paralelamente, o controle do tempo de exposição atua como barreira comportamental: intervalos de 15-20 minutos de sol devem ser intercalados por sombra ou descanso em superfícies isolantes, já que cães não sudam por todo o corpo e dissipam calor principalmente por polipneia, mecanismo menos eficiente quando a temperatura ambiente se aproxima da temperatura corporal.
A areia quente e o sal marinho alteram o pH da pele e desestabilizam o manto hidrolipídico, facilitando a colonização por microrganismos e o desenvolvimento de dermatite superficial. Por isso, o término do passeio deve incluir remoção mecânica dos resíduos com água doce — caneco ou chuveirinho de pressão reduzida — seguida de aplicação de pads ou lencinhos com princípios calmantes, como alantoína ou pantenol, que restauram a integridade da barreira e reduzem a liberação de citocinas pró-inflamatórias. Brumas hidratantes com extratos de camomila ou hamamélis, em formato spray, refrescam a superfície e aumentam a hidratação percutânea sem deixar resíduos pegajosos, o que é especialmente útil em animais que se recusam a banhos completos. Importante ressaltar que xampus ou sabonetes humanos são desaconselhados: seu pH ácido (5,5) contrasta com o pH fisiológico da pele canina (6,5-7,5) e pode agravar a descamação.
Animais braquicefálicos, com pele rosada ou com histórico de alergia alimentar/atópica exigem rotina mais rigorosa: proteção solar de amplo espectro aplicada antes mesmo de sair de casa, camisetas de malha UV 50+ e avaliação veterinária prévia para ajuste de antihistamínicos ou ômega-3, caso já estejam em tratamento para dermatite crônica. A nanotecnologia atual permite a incorporação de ativos em lipossomas menores que 200 nm, aumentando a penetração superficial sem ultrapassar a derme, o que reduz o risco de reação fotoalérgica. Ainda assim, mesmo pets considerados “resistentes” — pelagem densa e pigmentação escura — não estão imunes: a espessura do pelo não impede a transferência de calor por condução, e a insolação pode elevar a temperatura retal em até 2 °C após 30 minutos de exposição direta. O tutor deve, portanto, observar sinais precoces de desconforto — salivação excessiva, busca ativa por sombra ou lamimento persistente das patas — e interromper a atividade assim que qualquer um deles surgir.